Emília Corrêa
A vereadora por Aracaju, Emília Corrêa (Patriota), é a segunda entrevistada da tradicional coluna da Realce, que foi reciclada da sua versão impressa para os meios digitais.
À Realce, a parlamentar avaliou seu próprio mandato, a gestão de Edvaldo Nogueira (PDT), e também deu detalhes sobre suas movimentações para as eleições 2024, para as quais se posiciona como a grande favorita na capital sergipana. Confira a entrevista completa no site da revista.
Quais desafios você vê atualmente para as mulheres que desejam ingressar na política e como pretende superá-los?
Os desafios são históricos. Mulheres nunca participaram efetivamente da política partidária. As mulheres sempre eram as ajudantes, as auxiliadoras de seus maridos que iam ocupar cargos eletivos, que iam se candidatar, que se elegiam. As mulheres estavam sempre, muitas vezes, quando não estavam por trás, estavam ao lado, nunca à frente. São espaços percentualmente ocupados em sua maioria por homens de poder, as mulheres estavam sendo colocadas à margem. Então essas mulheres tiveram que lutar muito primeiro para ter direitos em relação as suas funções, as suas profissões, terem direitos de divisão, inclusive, de tarefas domésticas. Todos esses desafios as mulheres enfrentaram para agora estar um pouco mais além, ocupando espaços nos legislativos, federais, estaduais, municipais e nos executivos. Então esses espaços terão que ser superados, ou melhor, esses desafios terão que ser superados e exatamente com muito preparo. Cada uma, cada mulher vai ter que estar muito preparada psicologicamente, emocionalmente, espiritualmente e também com conhecimento de causa. É um ambiente muito árido, é um ambiente muito cruel, muito perverso ainda para presença feminina. E essas mulheres que realmente aceitarem esse desafio, elas saberão que vão enfrentar o machismo, vão enfrentar muitas vezes o descaso, os ataques, muitas vezes as mentiras, voltadas, inclusive, para sua pessoa como mulher. Vai atingir muito a mulher porque é isso que a perversidade e o machismo vai fazer. Mas é importante que se diga para que as mulheres que estão se preparando para isso, Executivo e para o Legislativo, que elas fiquem firmes e umas ajudem as outras. Isso vai ser muito necessário. Mas tem que buscar esse equilíbrio mesmo de força em todas as esferas que formam a pessoa e a função que ela vai desempenhar. É muito importante isso. Não basta também votar só em mulher porque é mulher. Tem que votar numa mulher que esteja verdadeiramente preparada para enfrentar. Não é fácil, é muito difícil, a gente sabe disso. As mulheres sabem o que eu estou falando, mas é necessário que isso aconteça e já está acontecendo e certamente as mulheres que estarão puxando esse cordão. Eu já venho trabalhando isso já há alguns anos, eu tenho certeza que através do nosso trabalho, muitas mulheres se inspiraram e digo isso porque eu ouço delas. Então é muito importante que as mulheres estejam se levantando e ocupando seus espaços se elas quiserem, porque é como aquela frase emblemática: o lugar de mulher é onde ela quiser.
Como você avalia a maior preferência do eleitor por mulheres em cargos de poder? Qual panorama na região da Grande Aracaju?
Eu analiso da seguinte forma: as mulheres têm avançado, se preparado e assumido espaços que requerem delas conhecimento e elas têm mostrado isso, assumindo funções importantes, através de concursos públicos no judiciário, no Ministério Público, na Defensoria, têm estado em um percentual elevado nas OAB de cada estado. Elas têm demonstrado também muita dedicação quando assume uma função pública ou empresa. E uma mulher quando assume mostra muita responsabilidade, muita dedicação e zelo. E isso tem gerado confiança. O que a gente sente é que isso tem sido transferido para a política. As mulheres na política também têm se mostrado dedicadas, inteligentes, conhecedoras do assunto que estão falando. E isso certamente a opinião pública tem notado e tem feito a opção, pelo menos em muitas falas da população, de que tem que ser uma mulher, que os homens já mostraram que não estão dando conta do recado. Então embasado nisso, elas têm passado credibilidade e confiança. Claro que isso muitas vezes não está em todas as mulheres, como também não está em todos os homens. Tem homens que logicamente são muito preparados e firmes, e independentes em funções que assumem. Outros não. Mas outra coisa que tenho reparado é que a mulher tem muito cuidado no uso da questão pública e dinheiro público. Acho que isso tem gerado confiança no caso da política, do eleitorado.
Quais foram suas experiências e desafios pessoais como mulher na política local e como eles moldaram suas perspectivas e objetivos?
As experiências que eu tive estão certamente ligadas aos desafios pessoais como mulher na política que, como eu já havia dito, é um espaço que tem um percentual elevadíssimo da presença masculina. É um espaço masculino, ainda não é de mulheres, de poder, é um espaço que a maioria massacrante é homem. Esses homens levam para lá a sua cultura machista, que foi ensinada para eles. É muito difícil para eles, mas é muito mais para nós mulheres, que nesses espaços sofremos as consequências do machismo, como o desrespeito, o corte de nossa fala, o corte de microfone, com falas inadequadas, com piadas, frases que nos desestabilizam. Mas é isso também que faz com que a gente se fortaleça, que a gente cresça e engrosse o couro, como diz o ditado. A cada dificuldade, a gente tem ficado mais forte como pessoa, no psicológico, isso é muito importante. Para tudo isso a gente tem que carregar um conhecimento e ter coragem e ousadia de dizer não, já foi preciso. Esses desafios dentro de um perfil feminino, me levaram a ter experiências e me moldar. A mulher tem que avançar, mas ter uma estrutura preparada do ser da mulher para traçar seus objetivos. Os meus tem sido ter uma observância de um patamar, de coerência, de firmeza, em projetos no parlamento, trazendo esperança para as pessoas e mostrando que a gente pode. Claro que cada mulher vai analisar se é aquilo que ela deseja, porque o enfrentamento é muito forte, no entanto, é gratificante saber que a gente já venceu tantos anos no parlamento.
Como você avalia seu mandato até agora?
Sobre o meu mandato, que já vem há algum tempo, em 2012 foi minha primeira eleição e eu fiquei como suplente, cheguei a assumir por um ano, em 2013, depois eu saí. Em 2016 eu venci a eleição, tive um mandato de 2017 a 2020. Em 2021 fui reconduzida à Casa. Então tem sido um mandato, entendo eu, de propostas, de projetos para o povo de Aracaju, voltando sempre pela coerência, por projetos. Fosse do Executivo ou da situação e oposição, sendo benéfico para a população, estive sempre votando favorável. Quando não tinha a clareza, não votava para não vulnerabilizar mais ainda a população de Aracaju. Sempre com muita responsabilidade, cuidado e zelo. Assim que tem que ser, com muito respeito ao povo de Aracaju. Faço uma oposição forte, pelo menos é o que dizem. Uma oposição firme, no sentido de não abrir mão de defender o povo, ao invés de defender políticos. Isso eu venho dizendo desde sempre que entrei. Fiscalizando nas ruas, em todos os lugares que a gente é chamado, e quando não é chamado e tem conhecimento, vai e fiscaliza, usando a tribuna com toda a frequência possível, levando a situação e os problemas, também levando as soluções. Meu mandato tem sido assim e penso eu que tenho cumprido com o dever que junto ao povo que confiou em nosso nome e que nos levou àquela Casa.
Em relação às eleições de 2024, como andam suas movimentações para concorrer a um cargo de maior relevância na política? Quais são suas metas e projetos para esse futuro?
2024 é um ano muito importante. Um ano que a gente acaba concluindo mais uma legislatura. É o terceiro mandato como vereadora e tem as eleições municipais que são para as funções de vereador e prefeitura. E existe sim uma forte possibilidade da Emília concorrer a prefeitura de Aracaju e porque eu digo isso? Porque é um momento diferenciado, a gente tem ouvido isso, mas a gente não afirma isso ainda. Mas existe essa forte possibilidade. Continuamos trabalhando no nosso mandato com toda responsabilidade na Câmara, na ordem do dia, votando e apresentando projetos, fiscalizando as ruas e fiscalizando tudo que se diz respeito ao setor público municipal. Tanto a saúde, quanto as obras, a educação, a mobilidade, os transportes públicos, tudo aquilo que diz respeito ao poder de Aracaju. Nós estamos fiscalizando e cumprindo com o nosso dever nas sessões que ordinariamente a gente sabe que acontece as terças, quartas e quintas. Esse é um papel. As movimentações para efetivar essa possibilidade da gente disputar, também estamos trabalhando, conversando com o povo, ouvindo as pessoas, nas ruas, temos falado e conversado com alguns políticos que também pensam de forma parecida, e que desejam ter uma candidatura com uma opção diferente dessas outras, com acertos já sem consultar as pessoas. Eles dizem que consultam as pessoas, mas isso parece ser uma retórica, porque que as reuniões acontecem em gabinete o tempo todo para saber quem vai, quem não vai e é o que a gente sabe historicamente, isso é repetido. E a gente tem caminhado como deve caminhar ouvindo as pessoas mas conversando também com políticos interessados. Agora eu não entro em detalhe porque, como eu já falei, a gente tem um trabalho aí árduo se vier a se concretizar essa pré-candidatura ou candidatura. É um trabalho bem árduo e o silêncio é uma das estratégias. É bom dizer aqui que não subestime a inteligência de ninguém, o silêncio como uma das estratégias faz parte para que a gente venha obter êxito, até porque a gente trabalha certamente para enfrentar duas máquinas, porque o sistema é assim. E os políticos, a classe política em sua maioria, não querem a Emília. Quem parece que deseja a Emília é o povo de Aracaju e se isso vier acontecer e principalmente se for da vontade de Deus, acontecerá.
Você já tem perspectiva de formação de grupo para o pleito? Se sim, quais serão as possíveis alianças?
Essa pergunta, no momento, não vou detalhar, mas vou responder sem detalhes. Existe formação de agrupamentos, de pessoas, de políticos e de objetivos similares, que é fazer aquela política que o povo deseja e não o que os políticos profissionais fazem. Então existe sim todo um rascunho, um desenho forte de alianças, que o povo tem aprovado, com políticos que pensam parecido. A gente não vai entrar nos detalhes agora. No momento certo a gente deixará isso claro.
Como você avalia as movimentações e indecisão dos governistas para as eleições 2024?
A gente está vendo aí que, na verdade, parece que eles não prepararam ninguém. Isso faz parte da vaidade dos políticos governistas, que se sentem, muitas vezes, donos das cabeças e das vidas que estão em seu entorno e se sentem deuses. Então eles não preparam ninguém, deixam para última hora. Eu não sei nem em quê confiam. E essa confiança, muitas vezes, agora vem deixando eles transtornados, a gente vê lançamento toda hora de um nome novo e um nome que não tem uma combinação com quem verdadeiramente vai escolher. Eles estão fazendo um filtro de quem vai ser o candidato do grupo, fazendo pesquisas e parece que o resultado disso tudo tem deixado eles muito inquietos, já que não têm encontrado. A gente espera que encontrem um nome adequado, que venha responder pelo grupo. Não sei bem como vão fazer, mas vejo isso com bastante tranquilidade e naturalidade, porque faz parte, quando eles não preparam seus sucessores e nem confiam neles próprios. Vamos aguardar, não tem muito o que dizer. Mas existe uma fragilidade na escolha e nos entendimentos.
Qual é a maior falha do prefeito Edvaldo Nogueira na relação com o Poder Legislativo?
Na verdade é que parece que ele foi todo o tempo o presidente da Câmara e o prefeito. Presidente da Câmara e ao mesmo tempo o prefeito, em determinado momento isso quebrou. A gente entende quando isso acontece. E aí agora o que que a gente nota? Ele certamente deixou de conversar com a cúpula da Câmara, deixou de atender os pedidos dos vereadores, até mesmo pedidos básicos, que a gente nota. Pedidos, por exemplo, para consertar, restaurar, reformar, uma escola, uma praça, uma rua. Parece que isso não foi observado pelos seus secretários. E mesmo sendo pedidos de vereadores que compõem a Câmara da situação. Isso parece que acabou desarrumando o controle dele sobre a Câmara, que ele tinha antes e ele perdeu esse controle e isso, certamente, eu acho que foi muito importante para Câmara e principalmente para o povo de Aracaju. Porque a Câmara não pode estar subserviente à prefeitura ou a qualquer prefeito. A Câmara é um poder independente. É isso que diz a Constituição. Harmônico, mas independente. E acredito que a Câmara ultimamente tem exercitado essa independência, e isso é muito importante. Volto a dizer, muito importante para o povo de Aracaju. Basicamente a falha dele foi se achar Deus, não dar atenção aos vereadores e quando eu falo dos vereadores eu nem estou falando dos vereadores da oposição, e sim da situação da bancada governista. Porque da oposição ele parece que nem existe. Embora que ultimamente eu noto que um ou outro ele já chama e tal, mas enfim. Não sei se haverá mais tempo dele conseguir a confiança desses vereadores. A gente tem que pagar para ver. Então a falha dele em relação ao tratamento com o legislativo foi não respeitá-lo e agora ele recebe na verdade o que deveria receber sempre qualquer prefeito. Ele recebe agora, eu repito, o que deveria receber qualquer prefeito. Ele está tendo agora e isso é bem importante. Agora está entendendo o que é executivo, que é um poder e legislativo é outro e deveria acontecer isso em todos os municípios em todas as Câmaras e prefeituras. Então eu acho que na verdade tudo que aconteceu, as atitudes de Edvaldo, levaram para que a Câmara fosse exercitar a sua independência constitucional.
E quais as falhas dele enquanto gestor?
Enquanto gestor, por exemplo, o Edvaldo conseguiu realizar várias obras, mas aí vem as falhas dessas obras. Toda obra, quando você dá uma ordem de serviço, você assina uma ordem de serviço. Significa que você já tem o valor daquela obra e você está disparando o início dela, porque a lei manda que você estabeleça um prazo conclusão daquela obra, porque se você já tem o orçamento, já tem o dinheiro, você vai começar, o prazo se estabelece em tanto tempo para finalizar. E são obras, muitas obras começadas e não terminadas, outras obras iniciadas e terminadas depois de vários aditivos, ou seja, prorrogando o prazo e encarece demais. Outras obras que são feitas aparentemente lindas, mas com material de qualidade baixa. São várias falhas nos setores de obras. Obras com valores altos e um resultado que muitas vezes não satisfaz a comunidade. Outra falha na gestão de Edvaldo é na saúde. Ele tem um marketing poderoso que passa que tudo está muito bem. As próprias pastas com o seu secretários, a secretária de saúde, a Waneska, quando ela vai na Câmara fazer aquela prestação de serviço, mostrando as metas, mostrando o quadro do que foi desenvolvido é de excelência na mídia. Mas quando você vai na realidade é reclamação de marcação de exame, demora de marcar o exame, demora de realizar, demora de entregar o exame, falta em UBSs até água para beber, para os funcionários, para os enfermeiros, para os médicos, para as pessoas. Então é muita mídia e pouca satisfação. Então pra mim isso são falhas terríveis numa gestão. São setores que você não pode brincar. Então teve obras? Tem obras e muitas vezes interessantes. Eu até digo aqui uma que eu achei muito boa, mas eu não sei quanto tempo vai durar porque eu não sei qual é a qualidade dos produtos que foram utilizados. A gente vai ver ali aquela que ampliou o calçadão da Praia Formosa. Eu achei muito importante para dar segurança, para que as pessoas pudessem estar também praticando as suas atividades físicas, mas falta manutenção. É uma obra muito bonita que João Alves deixou e está totalmente abandonada, até mesmo sem iluminação. Não tem cabimento, não se justifica isso de forma nenhuma. São obras que se tiverem a manutenção deixa a cidade mais bonita, mais atrativa e é assim que tem que ser e tantas outros lugares que estão abandonados. A Zona de Expansão, outra falha. Teve empréstimo para a Zona de Expansão, agora mais empréstimo para que seja efetivado e ela ganhou um nome, deixou de ser zona de expansão, passou a ser bairros e não tem estrutura nenhuma de bairro. A gente vai lá e vê a reclamação e o sofrimento das pessoas. Um simples fumacê não estão passando nos bairros. Coisa simples. Precisa fazer obra, cumprir prazo e deixar obras de qualidade e dar manutenção. Da manutenção parece que não há interesse, porque gostam muito é de obras caras, porque os valores são altos e mais fácil. Eu não entendo isso, é complicado. Mas enfim, vamos aguardar para ver aí quais serão as novidades nesse ano que tem e já estamos praticamente em ano eleitoral. E aí começa a aparecer um monte de novidade para encantar o povo que vem sofrendo tanto. Enganar aos olhos dos aracajuanos e aracajuanas que vem sofrendo tanto.