Paulo Márcio
Ex-candidato a prefeito de Aracaju em 2020, quando obteve 634 votos, pré-candidato a vereador da capital pelo PSDB e presidente da Comissão de Contas do partido, Paulo Márcio concedeu uma entrevista esclarecedora à Realce. Durante o bate-papo com a revista, ele avaliou o cenário político para as eleições de 2024, discutiu sua intenção de concorrer à vereança, falou sobre a situação da sigla tucana e abordou seus desentendimentos com Alessandro Vieira (MDB) e André Moura (UB).
Confira entrevista na íntegra:
Realce: Como você pretende diferenciar sua pré-campanha para vereador em 2024? Quais são suas expectativas?
PM: Desde que aceitei o convite de Emília Corrêa para concorrer a uma vaga na Câmara Municipal, venho mantendo um diálogo franco com a população sobre temas de alta relevância e interesse público. Não orbito em torno de pautas ideológicas ou causas específicas, pois considero que merecem atenção todas as questões de interesse da população, como mobilidade urbana, educação, preservação do meio ambiente, construção de moradias populares, aprovação do plano diretor, entre outras. Mas se eu tiver de falar em um diferencial, ao menos nesta campanha, talvez seja o fato de eu ser o único delegado de polícia a caminhar ao lado de Emília Corrêa, vale dizer, o único a ter permanecido nas trincheiras da oposição, respeitando, obviamente, as escolhas dos colegas que resolveram mudar de posição, independente das circunstâncias que os motivaram.
Realce: Quais são as principais demandas que você identifica dos eleitores de Aracaju para o pleito deste ano?
PM: Geração de emprego e renda, segurança pública, ampliação e melhora do sistema de saúde, transporte público acessível e de qualidade, soluções para as enchentes e alagamentos, casa própria, construção de creches e postos de saúde aparecem, na minha percepção, entre as principais demandas dos aracajuanos.
Realce: Como você avalia o atual cenário político de Aracaju e quais serão seus principais focos de atuação como vereador, se eleito?
PM: Como disse anteriormente, me interesso por todas as questões relativas à coletividade e pretendo contribuir para a solução do mais diversos problemas, debatendo, apresentado projetos, indicações e cobrando do executivo a adoção de ações concretas e efetivas. Mas é evidente que algumas questões são prioritárias e inadiáveis, e a elas dedicarei a máxima atenção e empenho, dentro dos limites do mandato parlamentar. Como exemplo, cito a discussão e aprovação do Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano, a elaboração e execução de um projeto de macrodrenagem, as licitações do lixo e do transporte público, o fortalecimento e valorização da Guarda Municipal de Aracaju, políticas públicas voltadas para as mulheres, crianças, idosos, pessoas com deficiência e demais segmentos vulneráveis. Tudo isso, é claro, feito com total ética e transparência, participação social e irrestrita observância das leis.
Realce: Você disputou a prefeitura em 2020 pelo DC e hoje está no PSDB. Como você avalia o imbróglio de Alessandro Vieira com a sigla tucana?
PM: A passagem de Alessandro Vieira pelo PSDB foi catastrófica. O cenário que encontramos foi de terra arrasada e completa desolação. Ele recebeu o partido das mãos do ex-senador Eduardo Amorim em 28 de março de 2022, com quase duzentos mil reais em conta, uma sede com parque de informática interligado à sede do partido em Brasília, auditório com capacidade para quase cinquenta pessoas, estúdio de áudio e vídeo com iluminação profissional, mobília e diversos utensílios. No entanto, um dos seus primeiros atos como presidente estadual do PSDB foi se apossar da sede, alterando o contrato de locação do imóvel sem o conhecimento da proprietária e convertendo-o em seu escritório particular em Aracaju, cujo aluguel é pago com recursos do Senado, por meio de reembolso. Ao final do seu primeiro ano como presidente estadual do PSDB (2022) Alessandro deixou de prestar as contas relativas ao exercício correspondente. Diante da omissão, o TRE, por unanimidade, julgou não prestadas as contas e determinou a devolução de R$ 939.298,77 (novecentos e trinta e nove mil duzentos e noventa e oito reais e setenta e sete centavos) ao erário. Na mesma decisão, o tribunal determinou o bloqueio do repasse dos recursos do Fundo Partidário e do Fundo Especial de Financiamento de Campanha (FEFC) até que a situação seja regularizada. Não bastasse isso, o senador Alessandro Vieira deixou mais de um milhão de reais em dívidas de campanha, uma vez que arrecadou cerca de 5,3 milhões de reais e realizou despesas da ordem de 6,4 milhões durante a disputa pelo governo do estado em 2022. Com os credores batendo à porta e sem dispor de recursos para honrar os compromissos assumidos na condição de candidato, ele transferiu as dívidas de campanha para o Diretório Estadual do PSDB. De modo que, somadas, as dívidas do PSDB herdadas de Alessandro Vieira ultrapassam 2 milhões de reais em valores atualizados. Em consequência disso, o partido encontra-se atualmente sem sede, está inscrito no cadastro de devedores do SERASA, SPC e diversas instituições bancárias, além de ser diariamente procurado por credores diversos, alguns dos quais acionaram o partido na justiça comum.
Realce: Como você avalia a pré-candidatura de Yandra Moura?
PM: É uma candidatura oportunista, precoce e artificial. Oportunista porque irrompe no âmago do agrupamento governista sem nenhum diálogo, aproveitando-se da antipatia, fragilidade e falta de liderança de Edvaldo Nogueira, que nunca fez nem fará sucessor e, por mais que negue, delegou ao governador Fábio Mitidieri o comando da sucessão. A precocidade tem a ver com a visível falta de preparo de Yandra, não exatamente pela pouca idade, mas sobretudo pela falta de experiência, de vivência, de maturidade, enfim, de uma identidade política que nos permita enxergar nela algo que não seja a projeção ou a sombra de André Moura, seu pai, padrinho e criador. E sem essa identidade própria, forjada na lida diária e no palco dos debates políticos, a pré-candidatura de Yandra Moura ganha contornos artificiais, uma mal-acabada versão política da Barbilândia.
Realce: Quais são os principais pontos de desacordo que você tem com relação a André Moura?
PM: André Moura leva ao pé da letra o ditado de que quem tem limite é município. Aliás, ele já ultrapassou os limites estaduais e hoje dá as cartas no governo do Rio de Janeiro. Mas o seu sonho de consumo é o governo de Sergipe, que ficará a uma curta distância se ele conseguir eleger Yandra e outros pré-candidatos em municípios importantes nas eleições deste ano. É evidente que o nome de André ainda é malvisto por muitos, como diria Edvaldo Nogueira em suas alvejantes e desinfetantes reflexões. Afinal, passado é algo que não se apaga. Mas convém lembrar que estamos no Brasil, um país sem memória e onde o dinheiro compra tudo, inclusive amor verdadeiro.