Ana Lúcia Aguiar
A advogada Ana Lúcia Aguiar, da chapa 3, é a segunda entrevistada na série da Realce com os candidatos à presidência da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) em Sergipe.
Com uma longa trajetória na advocacia sergipana e tendo ocupado cargos de destaque na OAB-SE, como vice-presidente e presidente da Caixa de Assistência dos Advogados de Sergipe (CAASE), Ana Lúcia aposta em uma campanha voltada para inclusão, igualdade de gênero e ampliação de benefícios concretos para os advogados, especialmente os mais vulneráveis, prometendo uma OAB “da advocacia para a advocacia.”
Confira entrevista completa:
Realce: O que a motivou a entrar na disputa pela presidência da OAB-SE, e quais são as principais propostas que pretende trazer para a entidade?
Ana Lúcia:O que há em mim é sobretudo coragem e disposição. O que me motiva é contribuir para que a advocacia resgate seu orgulho e sua potencialidade, até porque sou produto dessa advocacia e para ela vivo a vida. Ver tantos colegas precisando de ânimo diante de tantos desafios, me provoca a correr mais rápido e a me manter cada dia mais forte para transformarmos a realidade da nossa instituição! Temos um fortíssimo programa chamado “ProAdv” que tem uma base bem estruturada e com propostas efetivas para transformar a realidade da advocacia, vejam as minhas redes sociais para ter acesso a todo conteúdo que foi preparado com muito cuidado e colaboração de quem sente suas dores, cito duas: “OAB mais Segura” um seguro para proteger o advogado de instabilidades de saúde ou financeiras e o “Canal de denuncias anônimas” para que falem sem receios.
Realce: Qual é sua avaliação da gestão de Danniel Costa à frente da seccional?
Ana Lúcia: Uma gestão segregadora e demagógica (só pode ser uma má gestão), pois deixou um abismo quando se trata de tornar seu discurso em prática, existem mais mudanças cosméticas e artificiais do que reais, um exemplo básico disso são os tokens distribuídos sem certificado, coisa que farei o contrário, daremos completo, pronto para o uso, mas para além vemos as falhas gritantes para com a advocacia dativa, que está sendo induzida a uma falsa esperança de sucesso profissional através do exercício da advocacia dativa, sem no entanto criar as condições ideais para que isso efetivamente aconteça; a defesa das prerrogativas, que estão esquecidas ou flexibilizadas e especialmente com a desatenção aos Direitos Humanos, principalmente para com os nossos; ausência de atuação efetiva na esfera social e contando ainda com a postura silente, sem contato algum com os advogados, é uma gestão indisposta a dialogar, maior exemplo é a maneira como a toque de caixa a eleição desse pleito foi definida, até quando vamos tolerar ter representantes que se quer demonstram qualquer interesse em ouvir nossa voz? Além disso, me entristece ver esse estímulo à divisão da classe, pondo os advogados numa disputa de “nós contra eles” onde jovens estão de um lado e contemporâneos de outro, essa não é a melhor versão da nossa Ordem, essa é a versão da apatia e do atraso e não podemos nos render a isso.
Realce: Um dos temas que a senhora tem defendido é a consulta ampla à advocacia sobre as decisões da entidade. Qual é sua opinião sobre o atual processo eleitoral virtual, implementado pela atual gestão sem uma consulta aos advogados sergipanos?
Ana Lúcia: A OAB sempre deu o exemplo de vanguarda em muitos aspectos, um deles foram as eleições, sendo guardiã da democracia e de eleições limpas. Não descredibilizo a eleição virtual, pode ser prática e eficaz, porém, se feita com transparência e diálogo, o que evidentemente não foi o caso, as razões para questionar a metodologia dessas eleições se apresentam com os vícios que não foram esclarecidos pela empresa responsável, sejam eles: a não garantia do sigilo da votação, uma vez que todos votarão com sua inscrição por via de um link próprio e a chance do gravíssimo assédio eleitoral que muitos advogados podem ser submetidos.
Realce: A senhora acredita que esse formato atende às expectativas da categoria?
Ana Lúcia: Como se já não bastasse o erro que é definir algo dessa magnitude a portas fechadas, tapando os ouvidos institucionais para a classe, ainda são permissivos com erros colossais, porque nem questionaram antes, nem agora e tampouco se preocupam em buscar soluções para a resolução. Portanto estamos na disputa, não quero precisar pôr em cheque a credibilidade histórica das eleições, sempre respeitaremos os resultados, certamente, mas tudo poderia ter sido menos nebuloso, mais transparente, é por isso que em todo tempo do pleito estaremos vigilantes para levantar esses questionamentos, para que os advogados possam se perguntar se de fato merecemos uma gestão autocrática como a que vemos ou uma participativa, como a que quero e irei construir!
Realce: Caso eleita, a senhora será a primeira mulher a assumir a presidência da OAB-SE. Como enxerga essa possibilidade, e o que isso representaria para a advocacia sergipana?
Ana Lúcia: Ser a primeira mulher a presidir a OAB é ter a convicção de que a advocacia sergipana dará uma resposta altissonante sobre como as mulheres devem ser tratadas na sociedade e dentro do Sistema OAB: com respeito, sem ter suas vidas e lutas relativizadas, como foi feito a pouco tempo. Nosso conselho federal por exemplo, exprime isso – duas mulheres titulares, a única chapa com essa iniciativa e para além disso, com paridade racial também, não me limito as convenções, construo coletivamente, porque essa chapa não tem dono.
Já passamos 93 anos com homens liderando a Ordem, muitos deles, grandes homens inclusive, mas esse é o tempo de darmos protagonismo aquela que conhece a realidade das que tão pouco foram vistas, lembradas ou consideradas nos espaços de decisão, nas narrativas sociais e especialmente nas cenas de machismo, misoginia e violência das quais foram vitimadas e revitimizadas. Esse é um solo que conheço e pisei por décadas da minha vida, são mais de 20 anos no direito, acolhendo mulheres que foram afetadas, encorajando outras tantas com seus dons e talentos, porque nunca me ausentei do fronte de batalha e não sou uma militante de ocasião.
Sei que serei a primeira de muitas outras que virão, porque meu objetivo não é fulanizar a cadeira da presidência, nem tornar ela personalíssima, quando me sentar nessa posição, todos os advogados, mas especialmente todas as mulheres advogadas é que sentarão ali comigo.
Realce: Várias chapas de oposição foram registradas para o pleito. Houve diálogos para uma união de forças?
Ana Lúcia: Sempre estive aberta aos diálogos, porque são colegas legítimos disputando as eleições, mas cada um tomou seu caminho em razão de interesses próprios e que não se coadunam com os nossos, porque os meus interesses, não são apenas meus, são os da e para a advocacia sergipana. Portanto os respeito, além disso sei o quanto temos na Chapa 3 uma proposta histórica nas centenas de nomes que estão caminhando comigo, compreendo que o que tenho é uma vida pautada na militância institucional e na realidade do cotidiano da advocacia, não surgi meteoricamente para disputar uma eleição, tenho uma trajetória de abraços afetuosos e resultados comprovadamente positivos, por ter sido vice presidente da OAB e presidente da CAASE. Além disso, possuo objetivos legítimos e os atributos necessários para uma gestão eficiente e colaborativa, que é o que necessitamos hoje, o que, ladeada por uma chapa não negociada, mas preenchida de espaços conquistados por trajetórias honradas , vindas de todas as realidades sociais, econômicas e geográficas, ficará muito mais prazeroso, porque nosso único compromisso é por a Ordem em ordem. Será lindo e alegre de viver!