Clara Machado
A advogada Clara Machado é a quarta e última candidata à presidência da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) em Sergipe entrevistada pela Realce para as eleições de 2024 na Seccional.
Ela defende uma OAB mais ativa no cenário político-jurídico, integrando tecnologia e direitos fundamentais na rotina da advocacia. Além disso, propõe uma gestão descentralizada e democrática, centrada no advogado, com foco em governança, compliance e transparência.
Confira entrevista completa:
Realce: Como a senhora avalia o atual cenário da advocacia em Sergipe e a gestão de Danniel Costa?
Clara Machado: A gestão atual da OAB Sergipe tem sido marcada por um foco excessivo em imagem e marketing, desviando-se de sua função essencial de defesa ativa e independente dos interesses da advocacia e da sociedade. A prioridade à imagem pública deixou de lado ações concretas em áreas fundamentais, como a proteção das prerrogativas, o respeito ao piso da advocacia, a garantia de honorários justos e o apoio efetivo ao exercício profissional.
Além disso, é necessário que a atual gestão seja mais clara e transparente, apresentando detalhadamente aos advogados como e quanto tem sido gasto. É fundamental que a gestão apresente os extratos com eventual cartão corporativo caso existente, os gastos com passagens aéreas, os contratos com todas as empresas contratadas a todos os advogados, garantindo uma prestação de contas que reflita uma administração responsável e acessível a quem ela representa.
Para a advocacia e para a sociedade, é crucial que a OAB recupere sua atuação institucional forte e sólida frente às demandas sociais e políticas, reafirmando seu compromisso com a justiça e a democracia. Como bem disse Angela Davis: “Não aceitamos mais as coisas que não podemos mudar; estamos mudando as coisas que não podemos aceitar.”
Precisamos de uma OAB que vá além da aparência e se comprometa com resultados reais, servindo verdadeiramente como uma voz firme e ativa na defesa dos direitos da classe e dos interesses coletivos.
Realce: O que motivou sua candidatura nas eleições deste ano, e como a senhora percebe a ausência de mulheres na liderança da OAB-SE?
Clara Machado: Minha candidatura é motivada pela necessidade de renovação e pela certeza de que posso liderar a OAB Sergipe com uma visão inclusiva e transformadora. Acredito que uma gestão descentralizada é essencial para que a Ordem responda aos desafios atuais da advocacia, promovendo a participação ativa de todos os profissionais. Nossa proposta é construir uma OAB mais democrática, onde as decisões reflitam os interesses de toda a classe.
A ausência de mulheres na presidência da OAB Sergipe ainda reflete estruturas patriarcais que limitam o acesso feminino à liderança. Mesmo com o crescimento das advogadas e o avanço na pauta de igualdade de gênero, seguimos sem uma mulher na presidência do Conselho Federal e nas seccionais. Após 93 anos de OAB/SE, apenas três mulheres se candidataram antes, e agora temos duas candidaturas femininas: a minha e a de Ana Lúcia Aguiar.
Acredito que uma mulher na liderança da OAB traria um olhar mais empático e estratégico, rompendo com estruturas hierárquicas rígidas. Isso fortaleceria o diálogo, a diversidade e a transparência, tornando a OAB mais inclusiva e representativa.
Nossa candidatura é um compromisso com o fortalecimento da advocacia e a busca por equidade de gênero e combate à discriminação, promovendo um ambiente mais equilibrado e acolhedor para toda a classe.
Realce: Se eleita, quais serão as principais marcas que pretende deixar em sua gestão?
Clara Machado: Minha gestão terá quatro marcas fundamentais: a defesa intransigente das prerrogativas, para que nenhum direito dos advogados seja violado; a transparência, promovendo uma administração aberta e participativa; o protagonismo da jovem advocacia, criando oportunidades concretas de inserção profissional por meio de iniciativas como a academia aplicada do direito e a aceleradora de escritórios; e a formação continuada, oferecendo capacitação constante para que nossos advogados estejam sempre preparados e competitivos.
Acredito que esses pilares fortalecerão a OAB Sergipe, tornando-a uma instituição mais representativa, ativa e alinhada com as demandas da advocacia.
Realce: Uma de suas propostas é o fim da reeleição na presidência da OAB-SE. Em sua opinião, como essa mudança pode impactar a governança e a representatividade na instituição?
Clara Machado: A proposta de fim da reeleição impacta positivamente a governança e a representatividade ao promover uma renovação de lideranças, permitindo a entrada de novas ideias e perspectivas alinhadas às demandas atuais da advocacia. Essa alternância de poder evita a centralização e o personalismo, reforçando uma cultura de pluralidade que amplia a representatividade e incentiva maior participação dos advogados nos processos internos da Ordem.
A rotatividade permite que cada presidente deixe um legado sólido em um único mandato, enquanto sucessores aportam uma visão crítica e renovada, aperfeiçoando projetos e corrigindo possíveis falhas, mantendo a OAB-SE alinhada às melhores práticas de imparcialidade e interesse coletivo.
Realce: A gestão do presidente Danniel Costa optou pela adoção da eleição online na Ordem, uma medida à qual a senhora tem manifestado forte oposição. Quais são suas razões para criticar esse formato?
Clara Machado: Quero deixar claro que não sou contra as eleições virtuais. No entanto, acredito que uma mudança tão importante deveria ser acompanhada de mais tempo para debates e reflexões junto à advocacia. A adoção do formato virtual, apesar de ser um avanço tecnológico, exige uma discussão mais ampla para garantir segurança, transparência e a adaptação de todos os profissionais ao novo sistema.
A modernização é, sem dúvida, necessária, mas precisa ser feita com diálogo e planejamento, envolvendo todos os membros da nossa classe.
Realce: E com relação aos demais adversários, como a senhora os avalia?
Clara Machado: Acredito que cada candidatura representa diferentes visões e projetos para a advocacia em Sergipe. Respeito meus adversários. No entanto, nossa proposta se diferencia por seu foco em uma gestão inclusiva, transparente e descentralizada, que realmente coloca a advocacia como protagonista.
Estamos comprometidos em construir uma OAB mais participativa, onde cada advogado e advogada tenha voz e veja suas demandas atendidas. Nossa candidatura representa a renovação com responsabilidade, trazendo ideias inovadoras e ações concretas que fortalecem a classe e devolvem à Ordem seu papel fundamental na defesa dos direitos e da democracia.