Mesmo faltando um tempo ainda considerável para as eleições de 2026, a disputa pelo Senado já tem se mostrado um jogo de gigantes em Sergipe, com diversas peças se movimentando intensamente para a corrida, que deverá, novamente, ser bastante acirrada assim como foi em 2022. E a Realce analisa agora as forças e fraquezas dos principais nomes.
Alessandro tenta reconquistar a direita
Em 2018, Alessandro Vieira (MDB) surpreendeu ao ser eleito senador com mais de 474 mil votos, impulsionado por um discurso de combate à corrupção e pelo apoio declarado ao então presidenciável Jair Bolsonaro (PL). Naquele momento, alinhado ao conservadorismo, passou a ser visto como o nome natural da direita bolsonarista em Sergipe. Mas, após a eleição, rompeu com o bolsonarismo, fazendo duras críticas ao governo e classificando-o como um “desastre”. A guinada no discurso lhe custou caro: perdeu o apoio da base que o ajudou a se eleger e passou a ser considerado traidor por boa parte do eleitorado direitista.
Agora, busca reconquistar apoio na direita, mas enfrenta forte concorrência com a consolidação de Rodrigo Valadares (UB), que conta com apoio público e declarado de Bolsonaro. Mas tem potencial para absorver um alto índice de “segundo voto”, funcionando como uma opção viável para eleitores que rejeitam nomes mais polarizados. É um nome que pode crescer discretamente e virar um fator inesperado na reta final.
André Moura tem cartas na manga
Com larga experiência no Congresso Nacional e uma das maiores estruturas políticas do estado, André Moura (UB) tenta retornar ao cenário eleitoral em 2026 mirando o Senado, enfrentando grandes obstáculos, muitos deles semelhantes aos que o fizeram fracassar na disputa de 2018. Naquela eleição, mesmo com forte articulação e investimentos pesados, acabou derrotado, tendo em Aracaju seu Calcanhar de Aquiles.
Para 2026, ele ainda precisa lidar com o desgaste de antigas condenações judiciais, incluindo uma já transitada em julgado no STF por corrupção em Pirambu. Apesar de ter feito acordo para devolver valores aos cofres públicos, o episódio segue como um peso em sua imagem. Ainda assim, ninguém ousa subestimar a capacidade de André de operar politicamente. Habilidoso nos bastidores, com recursos e um histórico de influência no Congresso, ele ainda guarda cartas importantes na manga, como o forte apoio do governador Fábio Mitidieri (PSD) e uma estrutura operacional indiscutivelmente maior que a dos adversários, por exemplo. Se conseguir contornar os desgastes e reposicionar sua imagem, também poderá surpreender.
Rogério sai na frente
Entre os pré-candidatos ao Senado em 2026, Rogério Carvalho (PT) desponta com uma vantagem considerável, como indicam as mais recentes pesquisas eleitorais. E esse favoritismo não é por acaso. O senador reúne um conjunto robusto de fatores que o colocam em posição privilegiada na corrida por uma das duas vagas em disputa.
Rogério é, hoje, a principal liderança da esquerda em Sergipe e tem consolidado seu protagonismo tanto no estado quanto a nível nacional, sendo um dos parlamentares mais influentes do Congresso. É dele, por exemplo, um dos mandatos mais produtivos e atuantes da bancada sergipana, reconhecido por sua atuação em temas como saúde pública, regulação das redes sociais, reforma tributária e enfrentamento ao bolsonarismo.
Além disso, Rogério goza de uma posição estratégica dentro do PT: tem prioridade na legenda para disputar a reeleição ao Senado, e já conta com o apoio direto do presidente Lula, que o considera prioridade em Sergipe para 2026. O respaldo do líder petista, ainda o maior cabo eleitoral da esquerda no país, deve garantir à sua candidatura um forte impulso, especialmente num cenário de polarização.
Outro ponto a seu favor é a ausência, até agora, de um concorrente viável que represente a esquerda em Sergipe com o mesmo nível de capilaridade, experiência e articulação política. Por tudo isso, Rogério Carvalho larga na frente, e com fôlego, na disputa por mais oito anos no Senado.
Rodrigo Valadares busca recuperar o fôlego
A Realce foi o primeiro veículo a cravar, ainda em 2023, que Rodrigo Valadares (UB) mirava uma vaga no Senado em 2026, e, desde então, diversas pesquisas chegaram a colocá-lo entre os nomes mais competitivos. Com apoio declarado de Jair Bolsonaro, maior cabo eleitoral da direita no Brasil, ele passou a ser o representante incontestável do bolsonarismo em Sergipe. No entanto, nos últimos meses, algo parece ter mudado.
Embora ainda mantenha base fiel, é perceptível uma queda na confiança do eleitorado quanto à sua viabilidade de vitória. E isso pode ser reflexo direto de um preço alto que o deputado vem pagando por seu radicalismo. Um exemplo recente foi a polêmica envolvendo o tarifaço imposto por Donald Trump ao Brasil. Enquanto boa parte da classe política condenou a medida como prejudicial à economia nacional, Rodrigo preferiu defender o presidente dos EUA e tratar a decisão como uma retaliação legítima contra o que considera uma “perseguição” a Bolsonaro. A posição soou contraditória para muitos eleitores, especialmente os que viam nele um defensor intransigente do patriotismo.
Apesar disso, não há dúvidas de que pode, sim, recuperar terreno e despontar novamente como um dos favoritos, principalmente se o clima de polarização voltar a se intensificar em 2026.
Eduardo terá o apoio da máquina em Aracaju
O ex-senador Eduardo Amorim (PL) tentará voltar ao Senado em 2026. E, desta vez, contará com apoios estratégicos que podem fazer diferença na disputa. O principal deles é o respaldo da prefeita de Aracaju, Emília Corrêa (PL), que, conforme a Realce já abordou, deve concentrar ainda mais a força da máquina municipal na sua pré-candidatura.
Embora Emília também apoie Rodrigo Valadares, as movimentações nos bastidores indicam que o apoio mais estrutural e consistente da capital será direcionado a Amorim, que também contará com o apoio do seu irmão e presidente estadual do PL, Edvan Amorim.
Edvaldo é pré-candidato, mas pode sim recuar
Edvaldo Nogueira (PDT) é um dos nomes que vêm se articulando para a disputa, mas sua pré-candidatura ainda depende de muitos fatores, especialmente do apoio do governador Fábio Mitidieri (PSD). Sem esse respaldo, o pedetista poderá enfrentar um cenário extremamente difícil e, consequentemente, recuar da corrida.
Vale lembrar que, como já abordado pela Realce, esse recuo pode ocorrer especialmente para evitar novos conflitos internos com André Moura (UB), com quem protagonizou disputas duras nas últimas eleições. A desistência da corrida ao Senado abriria espaço para um gesto de pacificação.
Diante desse contexto, um plano B já está sendo desenhado nos bastidores: Edvaldo pode disputar uma das oito cadeiras de Sergipe na Câmara Federal, formando uma dobradinha com Luiz Roberto, que já articula sua pré-candidatura a uma vaga na Assembleia Legislativa.