Clarisse Ribeiro
A Realce segue com sua série especial de entrevistas exclusivas com os candidatos ao Quinto Constitucional, ouvindo desta vez Clarisse Ribeiro, advogada há mais de 20 anos e ex-juíza do Tribunal Regional Eleitoral de Sergipe (TRE-SE).
Na conversa, a advogada falou sobre sua trajetória na profissão, inspirada pela tradição jurídica de sua família e consolidada à frente do escritório Eduardo Ribeiro Advocacia, que completa 45 anos de história. Também abordou temas como a valorização das mulheres na Justiça, a defesa intransigente das prerrogativas da advocacia, o combate à morosidade processual e a importância do diálogo contínuo entre o Judiciário e os advogados.
Confira entrevista completa:
Realce: Para começar, conte-nos um pouco da sua trajetória na advocacia. Como iniciou, quais foram os principais marcos e motivações para chegar até aqui?
Clarisse: Eu nasci em uma família que vive o Direito e, ainda pequena, na escola, como também nos bancos da faculdade, era comum as pessoas, citarem e elogiarem não só o meu pai – Eduardo Ribeiro – com quem divido o meu dia -a -dia profissional no escritório, como a minha mãe – Socorro Ribeiro – e o meu Avô – Dr. Rochinha. O orgulho que sempre senti da caminhada profissional deles foi o meu maior incentivo para seguir na advocacia, pois, desde cedo, eles me ensinaram que a advogar é servir à sociedade e mais do que uma profissão, é missão.
Nosso escritório – o Eduardo Ribeiro Advocacia – completou 45 anos esse ano, dos quais eu já atuo há mais de 20. Cheguei como estagiária no inicio da faculdade; Hoje sou sócia e gestora da área cível e trago comigo muito orgulho dessa trajetória que se baseia não só em técnica, mas, sobretudo, em ética e respeito para com todos.
A motivação que me trouxe até aqui é a convicção de que posso contribuir para a construção de um Judiciário que realmente dialogue com a advocacia, que compreenda suas dores e suas contribuições. Fui juíza eleitoral, pela classe de juristas do TRE de Sergipe e ali pude construir uma passagem pautada pela recpetividade e a atenção extremas com atendi cada um dos advogados que recebi em meu gabinete; pela alta produtividade com que desempenhei a nobilissima missão, sendo elogiada pela celeridade com que julguei os processos que recebi, pelo senso de colegialidade com que atuei, qualidades que foram destacadas pelos membros da corte quando da minha despedida.
Quero me manter exatamente assim, caso venha a integrar o Tribunal de Justiça do nosso Estado, para ali ser a voz que defende o que é essencial para o exercício pleno da nossa profissão, para que cada advogado sergipano possa exercer seu ofício com a dignidade e o respeito que merece. Minha trajetória é um reflexo do compromisso em ver a advocacia reconhecida como peça-chave no sistema de justiça, e não como um obstáculo.
Realce: Em um Judiciário ainda majoritariamente masculino, o que significa para a senhora ocupar esse espaço?
Clarisse: Significa, primeiramente, uma grande responsabilidade. Como mencionei em minhas propostas, ‘Valorização das Mulheres na Justiça’ não é apenas um lema, mas um compromisso que carrego em minha trajetória. Sei que minha presença aqui pode inspirar muitas mulheres advogadas a almejarem e ocuparem posições de destaque.
Também significa ser um exemplo de que a competência, a dedicação e o preparo não têm gênero. É a oportunidade de atuar ativamente para garantir a igualdade de condições e tratamento da mulher na atuação institucional, combatendo vieses e promovendo políticas de gênero que realmente façam a diferença.
Quantas vezes presenciei colegas advogadas tendo sua fala minimizada ou sua presença questionada de formas que um colega masculino talvez não enfrentasse? Minha vivência me deu a sensibilidade para entender essas nuances.
Minha intenção não é apenas ocupar um espaço, mas abrir caminhos. Quero mostrar que a diversidade de perspectivas, incluindo a feminina, enriquece o debate jurídico, humaniza as relações e torna o Judiciário mais representativo da sociedade que serve. É um privilégio e um dever lutar para que mais mulheres tenham a oportunidade de brilhar e serem reconhecidas por seu valor.
Realce: Em uma campanha marcada por disputas de bastidores, qual tem sido sua principal força?
Clarisse: Em um cenário de campanha que, infelizmente, às vezes desvia o foco do que realmente importa, minha principal força tem sido a coerência com meus princípios e o diálogo franco e direto com a advocacia. Minhas propostas são claras e representam as demandas que ouvi e vivi na minha própria pele como advogada.
A base da minha campanha não está em articulações nos bastidores, mas na convicção de que a força de uma candidatura para o Quinto Constitucional reside no apoio genuíno da classe. Meu slogan, ‘Quem veio da advocacia não pode se afastar dela’, não é apenas uma frase, é a bússola que me guia. Minha força reside na minha plataforma, que busca o respeito absoluto às prerrogativas, a valorização dos honorários, a celeridade com responsabilidade e, acima de tudo, a humanização e o diálogo contínuo com cada colega. Tenho construído essa caminhada na base da verdade, da transparência e do compromisso inabalável com a advocacia sergipana, do interior à capital. Essa é a minha força: a certeza de que estou lutando por aquilo que realmente acredito e que a advocacia merece.
Realce: A senhora tem dialogado com diferentes segmentos da advocacia, do interior à capital. Que demandas mais te marcaram nesse processo?
Clarisse: O diálogo constante com a advocacia, de todas as regiões de Sergipe, tem sido a parte mais enriquecedora e reveladora desta jornada. É nesses encontros que se solidifica minha proposta de ‘Diálogo Contínuo com a Classe’. As demandas que mais me marcaram e que se repetem, do advogado iniciante ao mais experiente, do interior à capital, são:
1. O desrespeito às prerrogativas: É alarmante ouvir tantos relatos de advogados que têm seu trabalho cerceado, notadamente os jovens advogados. Essa pauta, que está no topo das minhas propostas, é um clamor uníssono. E eu estou atenta e profundamente comprometida com ela.
2. A morosidade processual: A angústia de advogados e clientes diante da demora nos julgamentos é palpável. Muitos expressam a necessidade urgente de celeridade nos julgamentos com responsabilidade, sem que a justiça seja atropelada pela pressa. Demandas simples que se arrastam por anos, causando prejuízos imensos aos jurisdicionados e à própria credibilidade do Judiciário.
3. O aviltamento dos honorários: É uma dor constante. A dificuldade em ter os honorários de sucumbência fixados de forma justa e a preocupação com a aplicação da tabela da OAB/SE para a advocacia dativa são demandas recorrentes e cruciais. Vi advogados que, mesmo com anos de dedicação a um processo, recebem valores irrisórios, desvalorizando todo o esforço e tempo empregados. Minha proposta de ‘Defesa da Dignidade e dos Honorários dos Advogados’ nasceu da escuta a essas realidades.
4. A falta de humanização e escuta ativa: Muitos colegas se sentem como números ou meros expectadores, sem que sua argumentação seja devidamente considerada. Há um desejo grande por um Judiciário que, além da técnica, demonstre empatia e realmente ‘ouça o advogado com sensibilidade e atenção’, como preconizo.
Essas demandas não são apenas pontos de pauta, mas a voz da advocacia que anseia por um Quinto Constitucional que entenda e represente suas lutas diárias.
Realce: Qual é a Clarisse que poucos conhecem, mas que faz diferença nessa caminhada?
Clarisse: A Clarisse que talvez poucos conheçam, mas que acredito fazer uma diferença fundamental nesta caminhada, é a Clarisse que se move não apenas pela técnica jurídica – que é essencial –, mas por uma profunda empatia e uma capacidade genuína de escuta ativa. Minha trajetória me ensinou que, por trás de cada processo, há histórias de vida, expectativas e, muitas vezes, angústias profundas.
Sou aquela que, muitas vezes, dedica um tempo extra para compreender não só o ‘o quê’ do problema, mas o ‘porquê’ e o ‘como’ ele afeta a vida das pessoas. Essa característica, que se reflete na minha proposta de ‘Julgamento com Escuta Ativa e Humanização no Segundo Grau’, permite-me ir além da letra fria da lei, buscando soluções que sejam não apenas legais, mas também justas e humanas.
Além disso, sou uma Clarisse com uma resiliência forjada nas batalhas da advocacia. Aprendi a persistir, a negociar com firmeza e a defender meus ideais mesmo diante de adversidades. Essa resiliência, combinada com uma inabalável fé na justiça e na capacidade de transformação pelo diálogo, é o que me impulsiona. É essa Clarisse, humana, persistente e profundamente conectada com as necessidades da advocacia, que me trouxe até aqui.
Realce: Pela trajetória e respeitabilidade que construiu, muitos a veem como um dos nomes naturais da vaga. Como lida com o apoio, e com os ataques?
Clarisse: Lidar com o apoio e com os ataques faz parte de qualquer processo eleitoral, especialmente em uma disputa tão importante quanto esta. Com o apoio, lido com imensa gratidão e senso de responsabilidade. Saber que tantos colegas, com suas histórias e expectativas, veem em mim um nome natural para a vaga e depositam sua confiança em minhas propostas é uma honra imensa. Esse apoio é a validação de uma trajetória construída com seriedade, ética e dedicação à advocacia sergipana. Ele me fortalece e reafirma meu compromisso de ser a voz da classe no Tribunal.
Já os ataques, embora desagradáveis, eu os encaro como parte do jogo. Procuro não me desviar do meu foco principal: apresentar minhas propostas e dialogar com a advocacia. Como advogada, aprendi que o debate deve ser travado no campo das ideias e dos argumentos, e não no da desqualificação pessoal.
Minha resposta a qualquer ataque é sempre reforçar meu propósito e minhas propostas, como o ‘Absoluto Respeito às Prerrogativas da Advocacia’ e a ‘Defesa da Dignidade e dos Honorários dos Advogados’. Mantenho a cabeça erguida, a postura firme e os olhos fixos no objetivo maior, que é servir à advocacia com integridade e competência.”
Realce: Se pudesse deixar uma única mensagem para a advocacia sergipana agora, qual seria?
Clarisse: Se eu pudesse deixar uma única mensagem para a advocacia sergipana agora, seria esta: ‘Quem veio da advocacia não pode se afastar dela.’ Essa frase, ‘Quem veio da advocacia não pode se afastar dela’, é mais do que um slogan para mim; é um princípio inegociável que orienta cada passo da minha jornada. Minha experiência nas trincheiras da advocacia me deu uma compreensão profunda das alegrias, dos desafios, das frustrações e das vitórias que cada um de vocês vivencia diariamente.
E essa postura de proximidade e respeito não é uma promessa futura, mas uma prática comprovada. Quando tive a honra de atuar como Juíza Eleitoral no TRE de Sergipe, fiz questão de manter uma conduta de portas abertas para todos os colegas advogados. Recebia para despachar, ouvia nas audiências com atenção e compreendia as suas perspectivas e os desafios do dia a dia forense. Essa experiência me mostrou que é perfeitamente possível e, de fato, essencial, que o Judiciário e a advocacia caminhem lado a lado, em diálogo constante e respeitoso.
Por isso, afastar-me da advocacia seria afastar-me da minha própria essência e, mais importante, afastar-me das demandas e necessidades reais da classe que pretendo representar. Meu compromisso é ser uma ponte, um elo permanente entre o Tribunal de Justiça e cada advogada e advogado sergipano.
Isso significa manter as portas abertas para o diálogo contínuo, praticar a escuta ativa para que as sugestões e críticas cheguem onde precisam chegar, e atuar incansavelmente para que as propostas que apresentei – desde o respeito absoluto às prerrogativas até a defesa dos nossos honorários – se tornem realidade.
A Clarisse que vocês conhecem hoje, advogada, com seus anos de militância, e que já atuou no Judiciário com a advocacia ao seu lado, será a Clarisse que estará no Tribunal: sempre conectada com a base, sempre defendendo os interesses da nossa profissão. Porque a força da justiça se constrói com a voz unida e respeitada da advocacia.


