O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, se tornou, indiretamente, um dos fiéis da balança para as eleições presidenciais brasileiras de 2026. Isso porque o republicano, ao reaproximar-se do presidente Lula (PT) e adotar um tom diplomático após meses de tensão comercial, acabou esvaziando o discurso bolsonarista e fortalecendo a imagem do petista como líder estável e respeitado no cenário internacional.
O encontro entre ambos, realizado no último domingo, 26, durante a Cúpula da ASEAN, na Malásia, sacudiu os bastidores, com os gestos de Trump, antes aliado ferrenho de Jair Bolsonaro (PL), a Lula.
A relação entre Brasil e Estados Unidos vinha estremecida desde o anúncio, por Trump, de tarifas de 50% sobre produtos brasileiros, em resposta ao que a Casa Branca classificou como “perseguição judicial” a Bolsonaro. Além disso, Washington havia imposto sanções a sete ministros do Supremo Tribunal Federal e punições financeiras ao ministro Alexandre de Moraes, num gesto que tensionou os laços entre os países.
Mas, como ensina Maquiavel, “um príncipe prudente deve saber usar a adversidade como instrumento de força”. Lula fez exatamente isso. Transformou a crise diplomática em narrativa de soberania nacional, usando o “tarifaço” como símbolo de resistência e de defesa do Brasil diante de pressões externas. Quando, meses depois, Trump recuou e se reuniu cordialmente com o petista, o gesto foi interpretado por analistas como uma vitória política e simbólica de Lula, e uma derrota silenciosa para o bolsonarismo, que sempre explorou a imagem de aliança com o republicano.
A ciência política tem um conceito clássico para explicar esse fenômeno: o “rally ’round the flag”, descrito por John Mueller nos anos 1970, que demonstra como líderes ganham popularidade ao enfrentar crises externas e se apresentar como defensores da nação. E Lula aplicou esse efeito com precisão. Segundo levantamento da Quaest, sua aprovação subiu de 40% para 48%, enquanto a desaprovação caiu de 57% para 49% após o início da disputa comercial.
Houve uma mudança de percepção. Assim, o que parecia um desgaste virou combustível político, e o adversário estrangeiro se transformou em peça estratégica na construção da imagem de um Lula soberano e conciliador, que passou a ter um cenário mais favorável para a reeleição.
Para o campo bolsonarista, o golpe foi duplo. Primeiro, pelo enfraquecimento simbólico da aliança com Trump. Segundo, pela perda de sustentação internacional, já que o presidente dos Estados Unidos passou a reconhecer em Lula o papel de líder confiável. E analistas apontam que esse movimento enterra de vez o discurso do bolsonarismo.


