Dando continuidade à série especial de entrevistas com os candidatos ao Quinto Constitucional da Revista Realce, ouvimos agora o advogado Kleidson Nascimento, que figura entre os nomes que disputam para ocupar a vaga destinada à advocacia no Tribunal de Justiça de Sergipe.
Com mais de duas décadas de atuação, Kleidson destacou, durante a entrevista, o compromisso com uma advocacia mais inclusiva, técnica e conectada à sociedade. Enfatizou a importância de aproximar o Judiciário dos advogados que atuam fora dos grandes centros, a defesa de um gabinete com escuta ativa e acessível, além da valorização das políticas afirmativas e da representatividade racial no sistema de Justiça. O advogado também ressaltou que a ética, a imparcialidade e o diálogo permanente com a classe são princípios inegociáveis em sua atuação pública.
Confira entrevista completa:
Realce: O que em sua trajetória o motivou a colocar seu nome entre os concorrentes à vaga do Quinto Constitucional e qual legado deseja deixar caso seja escolhido?
Kleidson: A minha vida tem sido pautada por muitas lutas, tanto no aspecto pessoal quanto no profissional, e foi na advocacia que eu compreendi que essas lutas não precisam ser solitárias, que eu poderia me somar e atrair mais pessoas para fortalecer a advocacia e a sociedade. Foi com esse espírito que fui conselheiro seccional da OAB/SE por dois triênios, período em que também fui Diretor-Geral da Escola Superior de Advocacia e pude colaborar diretamente para a valorização da advocacia diante dos desafios cotidianos mas também contribuindo para uma representação mais diversa, inclusiva e consciente do seu papel social. Sendo um advogado negro com 23 anos de experiência no exercício da advocacia, tendo passado por outras carreiras jurídicas relevantes, e com mais de 18 anos de exercício na advocacia pública e como professor de direito com sólida formação acadêmica, fui estimulado por inúmeros colegas e hoje coloco meu nome à disposição da advocacia para um pleito que será histórico, podendo ser escolhido, de forma inédita, o primeiro desembargador negro da história do quinto constitucional em Sergipe.
Realce: Na perspectiva de aproximar advocacia e Judiciário, como o senhor pretende, caso eleito, fomentar maior diálogo e participação dos advogados junto ao tribunal, especialmente daqueles que atuam em municípios menores ou fora dos grandes centros?
Kleidson: Esse é, com toda certeza, um dos compromissos que assumo por ser parte da compreensão que tenho de que o quinto constitucional deve servir para aproximar o tribunal da sociedade por meio da advocacia. E o acesso da advocacia aos julgadores deve ser o mais amplo, sobretudo desburocratizando o acesso para os advogados, sobretudo para aqueles que estão em cidades mais distantes do tribunal, possibilitando diversos dias de atendimento presencial e remoto, com um gabinete verdadeiramente aberto à advocacia, sem distinção entre colegas. Acredito que essas iniciativas podem servir de espelho para o tribunal como um todo esteja mais atento às demandas da advocacia e voltado à entrega de uma prestação jurisdicional cada vez mais ampla, assertiva e humanizada.
Realce: Que propostas o senhor traz para garantir mais equidade no atendimento e na atuação dos advogados em locais menos favorecidos?
Kleidson: Por exercer a advocacia cotidianamente e sem a estrutura de que dispõem os grandes escritórios, tenho a exata compreensão das lutas e desafios dos colegas advogados e advogadas que se sentem distanciados ou muitas vezes desprestigiados no exercício da profissão. Como porta-voz da sociedade, a advocacia detém a prerrogativa de demandar mas, acima de tudo, de ser ouvida, independentemente do tamanho ou da estrutura de um escritório, como tantos colegas que não tem um escritório próprio, seja com muita ou pouca experiência na advocacia. Por isso, tenho compromisso em manter um gabinete sempre aberto à advocacia, com escuta ativa das suas demandas, especialmente na apreciação de pedidos liminares, tutelas de urgência e da evidência, implementar os protocolos de julgamento com perspectiva étnico-racial e de gênero, dando maior celeridade aos processos, sempre com fundamentação adequada aos fatos do caso concreto, com absoluto compromisso com a garantia das sustentações orais e dos honorários advocatícios na forma prevista pela lei processual, permitindo que toda a advocacia tenha igualdade em respeito às suas prerrogativas.
Realce: O processo do Quinto Constitucional neste ano trouxe um olhar especial para a diversidade e para a representatividade racial dentro das instituições. Como o senhor avalia esse movimento e o impacto dessas políticas afirmativas no fortalecimento do próprio sistema de justiça?
Kleidson: Eu vejo com muita satisfação que o quinto constitucional tenha aberto as portas para essa representatividade, uma demanda histórica e extremamente necessária para uma sociedade tão desigual. Tenho atuado como coordenador do Comitê de Equidade e Diversidade da PGE/SE e também como representante no Fórum Nacional de Equidade, o que tem sido um trabalho bastante dignificante e recompensador, na busca pela promoção de ambientes mais humanos, livres de qualquer tipo de discriminação, como determina a nossa Constituição Federal. E não tenho dúvida de que a composição da lista sêxtupla do quinto constitucional com pessoas negras, experientes e qualificadas vem a contribuir não só para o fortalecimento das políticas afirmativas mas, também, para que a atual e as futuras gerações possam acreditar que é possível um o sistema de justiça mais diverso e inclusivo.
Realce: Para exercer o cargo de desembargador oriundo da advocacia é necessário equilibrar experiência jurídica, imparcialidade e compromisso público. Qual é o princípio ou valor que o senhor considera absolutamente inegociável para atuar nessa função?
Kleidson: Considero que a ética deve ser a bússola de qualquer pessoa que se disponha a exercer uma função pública, sendo a retidão de suas condutas, a sua qualificação profissional, a experiência acumulada em sua atuação e a sua compreensão da dinâmica, da diversidade e da complexidade social, no meu entender, atributos indispensáveis para o exercício de cargo de tamanha relevância para a sociedade sergipana, valores que trago com muito orgulho, de forma indissociável, em minha trajetória.
Realce: Por fim, qual é a mensagem que o senhor deixa aos advogados e advogadas de Sergipe que acompanham este processo de seleção?
Kleidson: Desejo que tenhamos uma eleição consciente no dia 19 de novembro, que a advocacia possa buscar suas referências, avaliar os perfis dos candidatos e fazer suas escolhas de maneira independente e democrática. Cada advogado e advogada poderá votar em até seis candidatos que, respeitadas as regras da política afirmativa, comporão a lista sêxtupla a ser encaminhada ao Tribunal de Justiça, e peço o voto de confiança como candidato nº 1, para que possamos ter um Poder Judiciário mais plural, oportunizando termos o primeiro desembargador negro pelo quinto constitucional, compromissado a solução de conflitos com imparcialidade, técnica e humanidade, por meio do diálogo aberto com a advocacia e a sociedade.
 
			 
		    


