Trinta anos após a primeira vitória presidencial de Fernando Henrique Cardoso em 1994, quando o sociólogo assumiu o Palácio do Planalto, o Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), que já foi um gigante no país, enfrenta a maior crise de sua história, com um desgaste nacional que afeta também os diretórios estaduais. Em Sergipe, por exemplo, desde a saída de Albano Franco do comando, a sigla vem encolhendo a cada eleição, perdendo a relevância que já teve durante sua era de ouro com o ex-governador.
Durante a gestão de Albano Franco, uma das maiores lideranças políticas de Sergipe, que atuou como ex-governador, ex-senador, ex-deputado federal e estadual, e ex-presidente e conselheiro emérito da Confederação Nacional da Indústria (CNI), o PSDB teve um protagonismo significativo no estado por mais de 18 anos. No entanto, desde sua saída, a estadual da sigla decaiu para uma mera posição de coadjuvante.
O tamanho do buraco em que o PSDB mergulhou pode ser medido pelos fracassos das gestões nos últimos tempos. José Carlos Machado, ex-deputado federal e estadual, ex-vice-governador e ex-vice-prefeito, conduziu bem o partido durante sua liderança. No entanto, sob as administrações de Eduardo Amorim e de Alessandro Vieira, as consequências foram ainda mais severas.
Para se ter ideia, nas eleições de 2020, sob a liderança de Amorim, que assumiu o comando do partido quando já era senador e quando a sigla já estava em decadência nacional, o PSDB não elegeu nenhum vereador, intensificando uma crise que perdura até hoje, e que se agravou ainda mais quando Alessandro foi presidente estadual. No entanto, vale frisar que o antecessor de Vieira deixou a legenda bem estruturada financeiramente e organizada. O PSDB Mulher contava com um saldo de R$ 42 mil, enquanto a conta geral do partido tinha um saldo de R$ 89 mil, conforme documento obtido pela Realce.
O senador se filiou ao partido em 2022, pelo qual disputou o governo de Sergipe e sofreu uma dura derrota, ficando em quarto lugar, com menos de 100 mil votos — ele recebeu apenas 82.495 votos. Pouco mais de um ano depois, ele trocou a legenda pelo MDB, deixando um legado extremamente negativo para o PSDB.
De acordo com o delegado, pré-candidato a vereador e presidente da Comissão de Contas do partido, Paulo Márcio, Alessandro fez apropriação indevida de móveis e utensílios domésticos (xícaras, louças, cafeteira etc), sujou o CNPJ do PSDB, e debulhou um rosário de calotes em imobiliária, em empresa de pesquisa, dentre outros.
“Alessandro Vieira, você é irresponsável. Além de ter deixado o PSDB sem sede e sem mobília, você também deixou de prestar contas de quase R$ 1 milhão relativos ao período de 2022 quando foi candidato a governador do Estado”, disse o delegado em um vídeo divulgado nas redes sociais, após uma decisão do Tribunal Regional Eleitoral em Sergipe (TRE-SE), que condenou o partido a devolver o valor.
A decisão do órgão pode impedir a legenda de receber recursos dos fundos partidário e eleitoral, o que inviabilizaria automaticamente as campanhas do partido nas eleições de 2024, afundando-o ainda mais no cenário político sergipano.
Em resposta, Alessandro afirmou que há meses tenta entregar os móveis e que pretende interpelar uma ação na Justiça. “Computador velho, móvel, tá tudo lá no galpão! E Amorim me disse que não tem condições de receber. Agora vai no jornal e no rádio ficar miando (SIC) dizendo que não entregam para ele. Eu vou interpelar pela Justiça para que ele receba”, disse.
Com toda essa conjuntura, a sigla, agora novamente sob o comando de Eduardo, continua refletindo o desgaste nacional que tem progressivamente enfraquecido ainda mais um partido que já foi um dos maiores do país.