A comunicação política vive um tempo em que o conteúdo precisa circular por múltiplos canais. A fala no rádio, o corte de TV e o vídeo nas redes agora formam partes de uma mesma engrenagem: a da imagem pública. E é justamente por isso que os vídeos curtos se tornaram um elemento importante, não o único, mas o mais simbólico, da estratégia digital dos políticos.
O fenômeno não substitui o poder dos meios tradicionais; apenas amplia o alcance da mensagem. Como costuma dizer um consultor de comunicação, “a rede social é o eco do que a sociedade já comenta nas ruas”.
Esse novo tempo exige não apenas boa oratória, mas domínio da narrativa visual. E é exatamente isso que a classe política sergipana tem entendido: na política contemporânea, quem não se comunica com a linguagem das redes, desaparece nelas.
Em Aracaju, a disputa por espaço digital reflete, em muitos aspectos, a própria disputa pelo poder. De um lado, a oposição tem apostado no audiovisual como ferramenta de denúncia e pressão, de outro, a gestão municipal, em meio a um caos precoce, tenta construir uma imagem de estabilidade, leveza e proximidade com o povo.
O vereador Elber Batalha (PSB) representa o primeiro grupo. Seus vídeos, quase diários, unem denúncia e didatismo, misturando linguagem jornalística e ritmo de reportagem. É um modelo de comunicação política que não espera a imprensa noticiar: ele próprio assume o papel de narrador, analista e protagonista.
Já a ex-candidata Candisse Carvalho (PT) é jornalista renomada no estado, usa o formato com outro tempero, mais irônico e provocativo. Sua estratégia mistura humor, crítica e edição rápida, num estilo que dialoga diretamente com o público jovem e digital. Candisse ganhou destaque, inclusive, ao popularizar o apelido “prefa TikTok” para se referir à prefeita Emília Corrêa (PL), uma expressão que sintetiza bem o embate entre forma e conteúdo na política digital.
No caso da própria Emília Corrêa, a estratégia é inversa: ela tenta se aproximar do eleitor com o mesmo tom e formato dos influenciadores digitais, apostando em trends, vídeos curtos e discursos mais leves. É uma tentativa clara de modernizar a imagem, aproximando a gestora de um público que consome política como entretenimento. Mas o risco é evidente: quanto mais se comunica como influenciadora, mais difícil fica sustentar o papel de gestora.
Estudos recentes reforçam esse diagnóstico. A pesquisa de Viktor Chagas e Luiza de Mello Stefano, publicada pela SciELO, mostra que políticos brasileiros vêm explorando o formato dos vídeos curtos como principal ferramenta de engajamento, mas alerta que isso tem um efeito colateral: a simplificação do debate público. Quanto mais os políticos falam como influenciadores, menos discutem políticas públicas e mais constroem personagens.