Nesta semana, senadores de oposição protagonizaram um movimento que agitou Brasília: com 41 assinaturas, protocolaram um pedido de impeachment contra o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal. A iniciativa foi acompanhada de discursos duros, coletivas de imprensa e até a ocupação simbólica do plenário do Senado. Parlamentares como Flávio Bolsonaro, Magno Malta e Eduardo Girão lideraram o coro, acusando Moraes de abuso de autoridade e de desequilíbrio entre os Poderes.
O movimento, no entanto, esbarrou em um muro conhecido: o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, deixou claro que não pretende pautar o pedido. Legalmente, a admissibilidade de qualquer processo de impeachment contra ministros do STF depende exclusivamente da vontade do presidente da Casa. E Alcolumbre, como tem feito nos últimos anos, não deu sinais de que cederá à pressão da base bolsonarista ou da ala mais radical da oposição.
Com isso, o embate se reduz a um roteiro já conhecido da política brasileira: há tensão, há indignação vocalizada, há mobilização das redes sociais — mas não há consequências reais. A coreografia do confronto é meticulosamente executada, mas o enredo sempre termina no mesmo lugar: tudo segue como antes.
A estratégia repete um padrão descrito há mais de um século por Freud e Maquiavel. Para Freud, as massas são guiadas mais pela emoção do que pela razão; já Maquiavel nos lembra que, muitas vezes, o poder se sustenta por gestos simbólicos, não por ações reais. No fundo, é disso que se trata: um ato que alimenta a base política, reforça identidades e marca posição — sem, no entanto, alterar qualquer peça no tabuleiro.
Assim, o impeachment se torna menos um instrumento jurídico e mais um espetáculo retórico. Serve para manter a militância engajada e ocupar espaço na narrativa pública, mas não enfrenta — nem resolve — as questões centrais da República. O teatro é bom. O enredo, repetido. E o desfecho, previsivelmente vazio.